Que vento te trouxe pra cá?

Morando no exterior, não há quem não tenha respondido a esta pergunta inúmeras vezes. Já escrevi uma versão austríaca sobre isto que poderá ser lida aqui.

Agora vamos à versão dinamarquesa:

Nesta vida de migrante, escuto esta pergunta constantemente e em muitas variações. Refletindo sobre tal fenômeno, elaborei diferentes respostas, para a conversa não ficar tão tediosa.

Então, às vezes respondo que o motivo de eu ter vindo pra cá é porque eu amo a pronúncia do idioma dinamarquês. Ela é incrivelmente desafiadora!

Outras vezes, eu digo que vim, porque quero acordar o legendário dinamarquês que dorme para todo o sempre, lá no porão de um castelo, em Helsingør. Aí, pergunto:

– Como é mesmo o nome dele?

– Holger Danske!

– Exato, é dele que estou falando!

Quando eu penso no frio, respondo que estou aqui, porque preciso, realmente, tomar vento congelante na cara!

Se quero ser mais atrevida, digo que vim pra cá, porque não consigo viver sem o tal do patê de fígado!

Se quero parecer mais romântica, respondo que vim, porque quero pegar o lugar da, mundialmente conhecida, Pequena Sereia!

Mas se me deixo inspirar ainda mais pelo mundo literário, digo que estou aqui, porque quero encontrar O patinho feio.

Quando eu penso em bolo de aniversário, respondo que vim pra cá, porque não preciso pensar muito sobre como decorá-lo. Eu apenas coloco algumas bandeirinhas dinamarquesas e a atmosfera festiva está garantida. Um exemplo de comemoração de um aniversário num Jardim de infância, pode ser assistido neste link. O trenzinho passando na mesa com os docinhos é lindo!

Se me sinto um pouco triste, digo que vim para cá, porque aqui é o país mais feliz do mundo. Onde eu poderia ser mais feliz com tanta pílula da felicidade?

Quando eu penso em direções, digo que vim, porque eu gosto de esperar impacientemente no meio do cruzamento para virar à esquerda na carreira. Neste vídeo a partir do 12. segundo ficam um carro , você poderá entender melhor, caso na sua cidade o trânsito também nao seja assim.

Se adentro o campo espiritual, respondo que o motivo de eu estar aqui é por eu economizo muita vela, já que celebramos aqui um único dia (bededag) para tudo quanto é santo e reza.

Se quero mencionar algo idílico, digo que vim para cá, porque entendo muito bem a razão das vacas ficarem tão felizes, quando, depois de um inverno enclausuradas, saem para os campos bailando de felicidades. Eu quero mais é dançar junto!

Se eu quero dar mais atenção à natureza, digo que o motivo de eu estar aqui é porque eu gosto da possibilidade de colocar os pés entre dois mares, aí pergunto:

– Qual o nome da cidade, na qual poderemos fazer isto aqui na Dinamarca?

– Skagen!

– Isso! Aí que maravilha!

– Também acho!

Quando estou numa atmosfera mais criativa, respondo que eu estou aqui, porque eu quero me sentar numa cadeira Panton e brincar com Lego no país de seus criadores.

Na verdade, eu não entendo esta pergunta, pois onde mais eu poderia pedir uma água dinamarquesa ou saborear um bolo de Kaj, se não aqui?

Mas preciso confessar que o verdadeiro motivo de eu estar aqui é que todas as personagens de Ramasjan vão dormir e podemos acompanhar ao vivo. Assim, minha filha não tem o que argumentar contra o horário de dormir do Ramasjan!

Claro que eu poderia mencionar diversos motivos, pelos quais eu escolhi, exatamente, a Dinamarca. Mas o mais importante é que eu a abracei como meu país lar com todos os desafios que ela me apresenta.

P.S.: Se quiser ler este texto em dinamarquês, clique aqui!

Texto: Danielli Cavalcanti

Imagem:Gustav Quepon

4 comments

  1. Muito lindo e sensibilizante o seu texto. Tudo muito parecido com a Áustria, com a única diferença que aqui não tem um só dia de santo e sim muitíssimos dias para tudo que é santo. Austríaco adora feriado, entao tudo qué santo tem seu dia…e é feriado!

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