O capital devora tudo

Este poema está na Antologia Provérbios da lama, da editora Starling.

O capital devora tudo

E vomita seu rejeito

Bem na hora do almoço

A sirene da pausa tocaria

Mas já não adiantaria

Pois há lama até o pescoço

O capital devora tudo

E vomita seu rejeito

Nas faces, nas árvores, nos lares

Centenas de vidas soterradas

Sufocadas, à força enterradas

Ele crava uma espátula no nosso peito

O capital devora tudo

E vomita seu rejeito

Violenta o ecossistema

Mas o que importa é o contrato

A cláusula do mais barato

A tudo mais, dá-se um jeito

O capital devora tudo

E vomita seu rejeito

Deixa um rastro de destruição

E mães à espera por boa notícia

Elas passam por uma eterna sevícia

Pois não têm competência pra morte, só pra vida

O capital devora tudo

E vomita seu rejeito

Impregna seu horror por todos os lugares

Uma mulher perde seu bebê no rio

É encontrada atolada, desolada, é salva por um fio

É salva?

Salvo está o capital

Que mesmo cometendo tanto crime ambiental

Segue firme na cotação do metal

Enquanto as vidas transbordam-se de dor

E a natureza é devastada pelo lamaçal

O capital devora tudo

E vomita seu rejeito

Aí chegam os bombeiros

Fazem um trabalho fenomenal

Um esforço sobrenatural

Eles são quem mais respeitam a vida

Limpando o vômito do capital

Danielli Cavalcanti

Sobre  o crime ambiental ocorrido pelo rompimento da barragem de Brumadinho: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/30/buscas-sao-retomadas-pelo-6o-dia-em-brumadinho.ghtml

Há um Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Entre em contato com o MAB para saber como apoiá-lo.

Movimento dos Atingidos por Barragens

Fone/Fax: (11) 3392 2660 -São Paulo – SP – Brasil

Atendimento Geral: mab@mabnacional.org.br
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