Valeria, uma menininha de pulso firme

O pai de Valeria, em busca de asilo, atravessou, com a filha de quase 2 anos, o rio Bravo, entre a fronteira do México com os EUA. Deixou-a do outro lado e voltou para ajudar a esposa a atravessar.

Valéria, uma menininha de pulso firme, decidiu voltar para buscar a mãe também e, pluft, pulou na água. O pai a alcançou, colocou-a na cacunda e foram juntos…

– Segura firme, filha.

Apesar do nome, o rio se assustou com a cena repetida, tremeu tanto que a água ficou muito pesada para nadar.

– Segura firme, filha.

– Estou segurando, papai.

– Estamos já chegando, segura firme.

– Embaixo d’água é tão escuro, né papai? Como os peixinhos conseguem enxergar?

– Segura firma, filha.

– Papai, como os peixinhos conseguem respirar?

– Segura firma, filha.

– Estou com sono. Papai, peixinho também dorme?

– A garotinha do papai tem pulso firme. Chegamos, filha.

– Já posso te soltar, papai?

– Solta não, filha, vamos ficar juntinhos, já que a mamãe terá que atravessar mesmo sozinha o rio de lágrimas.

 

Esse foi mais um crime cometido tanto pelas políticas migratórias dos países destino de requerentes de asilo, quanto pela omissão do país natal em promover um Estado digno para seus habitantes, fazendo com que pessoas coloquem em risco o bem mais valioso que há: a vida de suas crianças, a sua própria vida.

Abram as fronteiras, facilitem o acesso ao requerimento de asilo através da chegada por meios de transporte seguros, independente dos documentos de requerentes estarem válidos ou não.

A vida vale mais, sempre valerá mais.

A de Valeria também valeria.
A do seu pai também, Valeria.

 

Danielli Cavalcanti

Ilustração: Javier Marroquin / Prensa Libre

P.S.:

A reportagem sobre esse crime pode ser lida aqui: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/06/26/pai-salvadorenho-e-filha-morrem-ao-atravessar-rio-na-tentativa-de-chegar-aos-eua.ghtml .

Reportagem da Amnistia Internacional “Desconstruir mitos sobre refugiados“.

 

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