Lourito na Dinamarca é uma narrativa lúdica e bem humorada sobre interculturalidade. Uma história delicada e divertida, onde temas como o carinho pelos lugares e amizades, o respeito às diferenças e sobretudo a força de viver, estão decodificados nas situações simples do dia-a-dia.
O livro retrata as aventuras e desafios de um papagaio brasileiro em terras escandinavas. Uma das suas expressões prediletas no idioma dinamarquês é a “pyt med det” que significa algo como: “deixa pra lá”, “esquece”, “bola pra frente”. Toda vez que ele a pronuncia, é como se estivesse vestido com um macacão protetor, preparando-se para seguir adiante, faça chuva ou faça chuva, já que na Dinamarca chove por bem dizer todo dia.
Estratégias de resiliência é uma prática que podemos desenvolver em situações adversas. Nesse trecho, a simbologia do medo do desconhecido é representada pela temperatura muito baixa, que é enfrentado “erguendo o bico”, preparando-se e seguindo em frente.
Este é um exemplo de resiliência e determinação que pode abrir um diálogo com a criança ouvinte ou leitora:
“Assim que cheguei em Kolding, quando a temperatura estava muito baixa, eu queria só ficar em casa. Mas aí eu dizia a mim mesmo: o que é isso, papagaio?
Com chuva, vento ou sol
Bico para frente
E preparar, apontar, voo!”
De acordo com Henkel et. al (Billedbøger – en grundbog, 2012, p. 104), lidar com “a literatura não é apenas uma questão individual e cognitiva; lidar com a literatura também é uma prática social com convenções associadas e valores complexos que são refletidos, desafiados e negociados através da interação do livro.” (Henkel et.al, 2012, p. 104).
Uma crítica a essa sociedade fechada em si é retratada, quando Lourito diz que “há muitos tipos de pássaros aqui, mas não é tão fácil fazer amizades, porque os pássaros dinamarqueses se conhecem antes mesmo de voar. Eles são vizinhos de ninhos e frequentam o mesmo jardim de infância.“ Mas aí ele relata sua estratégia para fazer amizades…
A admiração pela cidade pode ser percebida em várias passagens do texto, como também um entendimento pluralista (cosmopolita) sobre o mundo. Para Lourito, quando se mora em “diferentes lugares, todos esses lugares fazem parte da nossa história. Todos são de alguma forma o nosso porto.”
E aquela montanha russa de sentimentos, que acontece quando quem mora no exterior viaja férias para o Brasil, é refletida no trecho:
“Quando estou aí, sinto falta daqui. Quando estou aqui, sinto falta daí.“
Sobre a pergunta “este livro é apropriado para crianças de qual idade?”, eu diria para todas! As formas de diálogos que podemos desenvolver com a criança, a partir da leitura, varia de acordo com sua maturidade cognitiva, das trocas e interpretações, mas é um livrinho acessível a todas as crianças pequenas e grandes.
Lourito na Dinamarca vem com o propósito de transmitir um pouco da vivência na migração, de forma divertida e respeitosa. E se de quebra ainda colaborar com o enriquecimento vocabular e intercultural das crianças, a autora se diz muito feliz. E a ilustradora, de 9 anos, se diz muito feliz se inspirar outras crianças também! ❤